
X e a Manipulação da Percepção: A Estratégia por Trás das Alegações de Popularidade Global
Nos últimos anos, a rede social X (antigo Twitter) tem se envolvido em uma série de estratégias voltadas à recuperação de sua imagem pública e aumento da percepção de relevância no mercado digital. Entre essas ações, destaca-se uma prática particularmente controversa: a insistência em divulgar o aplicativo como o “número um” em categorias de notícias em diversos países, mesmo que essa classificação não corresponda ao seu uso real ou impacto jornalístico.
Neste artigo, vamos examinar em profundidade como o X tem manipulado sua categorização nas lojas de aplicativos, qual é o objetivo por trás disso, os impactos dessa prática na percepção pública e os limites éticos dessa abordagem. Mais do que um estudo de caso, este conteúdo serve como alerta sobre como estratégias de branding podem distorcer dados objetivos para criar narrativas favoráveis.
Tópicos do Artigo:
A mudança de categoria: da mídia social ao aplicativo de notícias

Em 2016, diante de uma estagnação no número de downloads e crescimento inferior ao de concorrentes como Facebook e Instagram, o então Twitter adotou uma medida inusitada: alterou sua classificação na App Store. Em vez de ser listado na categoria “Mídia Social”, passou a figurar como “Notícias”.
Essa decisão teve consequências imediatas. Enquanto competia com redes sociais gigantescas e consolidadas, o X costumava ocupar posições modestas nos rankings de download. Mas ao mudar de categoria, passou a liderar com facilidade o ranking de aplicativos de notícias, já que a concorrência nessa categoria é, de fato, muito menor.
Essa reclassificação estratégica se mantém até hoje na App Store (iOS), permitindo que a empresa publique, com regularidade, capturas de tela e gráficos que mostram o X como o “aplicativo de notícias mais baixado” em países como França, Brasil e Austrália.
O problema da categorização criativa
Embora o aplicativo seja amplamente utilizado para consumo de conteúdo jornalístico — e diversas mídias utilizem a plataforma para distribuir notícias — o X não se encaixa tecnicamente na definição de um aplicativo de notícias. Afinal, ele é essencialmente uma rede social, baseada em conteúdo gerado por usuários, sem curadoria editorial própria, e com controle mínimo sobre a veracidade das informações publicadas.
Essa manobra de categorização levanta questões importantes sobre transparência, manipulação de dados e responsabilidade corporativa.
A verdade por trás dos números: o que os dados realmente mostram
Apesar das alegações de liderança nas App Stores, os dados internos e os relatórios de uso do X contam uma história bem diferente.
Segundo o Relatório DSA (Digital Services Act) mais recente publicado pela própria empresa, o aplicativo teve queda de 15% no número de usuários ativos mensais na Europa desde que foi adquirido por Elon Musk. Esse declínio foi acompanhado por uma redução no tempo de permanência dos usuários, na taxa de engajamento e até na receita publicitária, especialmente após mudanças na política de moderação e no algoritmo da plataforma.
Ranking de downloads não reflete influência
Estar no topo dos rankings de downloads não significa, necessariamente, que o aplicativo seja o mais relevante para consumo de notícias. Aplicativos como Le Monde, BBC News, NPR, UOL ou Estadão têm bases menores, mas são focados exclusivamente em conteúdo jornalístico validado e produzidos por equipes de jornalistas profissionais.
O X, por outro lado, mistura memes, opiniões pessoais, fake news, anúncios e eventualmente notícias — o que o torna um ambiente difuso e potencialmente nocivo à informação qualificada.
Dados da Sensor Tower: um contexto mais realista
Plataformas de análise de mercado, como Sensor Tower, mostram que o X lidera consistentemente a categoria de aplicativos de notícias no iOS em vários países — mas isso ocorre unicamente por ausência de concorrência robusta.
Na França, por exemplo, os demais aplicativos da categoria possuem bases de usuários muito menores. O X, com mais de 17 milhões de usuários ativos mensais no país, aparece no topo quase por inércia — não por superioridade qualitativa como canal jornalístico.
A impossibilidade de replicar a estratégia no Android

Curiosamente, o X não consegue replicar essa estratégia no Android (Google Play Store). Isso acontece porque o Google tem uma política clara sobre categorias de aplicativos: apps baseados principalmente em conteúdo gerado por usuários não podem se registrar como aplicativos de notícias.
Ou seja, o X continua listado como rede social no Android, onde sua posição nos rankings é muito menos impressionante. Em muitos países, o app aparece atrás de TikTok, Facebook, Instagram e até Reddit em downloads e engajamento.
O que isso revela sobre a estratégia do X
A diferença entre iOS e Android revela que a liderança de X como “aplicativo de notícias” não está baseada no uso real, mas sim na brecha encontrada em uma única loja de aplicativos. Isso torna clara a intenção da empresa: ampliar artificialmente sua reputação de relevância, mesmo que os dados concretos apontem o contrário.
O papel da liderança do X na narrativa pública
Desde que assumiu o comando da plataforma, Elon Musk tem investido pesadamente em uma narrativa de enfrentamento com a mídia tradicional. Ele e sua equipe tentam posicionar o X como uma alternativa livre, sem censura, onde qualquer pessoa pode se informar sem filtros.
Essa narrativa é frequentemente apoiada por postagens de executivos como Linda Yaccarino, CEO do X, que compartilha estatísticas “positivas” da empresa mesmo quando estão descontextualizadas.
A guerra de narrativas: mídia tradicional x redes sociais
Essa disputa entre plataformas digitais e veículos tradicionais de imprensa tem crescido nos últimos anos. Enquanto jornais e portais lutam para manter sua audiência e receita, redes como X tentam assumir o posto de fonte primária de informação para o público, mesmo sem estrutura editorial.
Essa substituição não é isenta de riscos: a proliferação de fake news, desinformação política, teorias conspiratórias e conteúdo sem verificação tem consequências reais, como vimos nas eleições dos EUA, no Brexit e em episódios de violência motivada por boatos.
A plataforma X, ao insistir em se autodefinir como “aplicativo de notícias”, assume responsabilidades que não está preparada para cumprir.
Percepções, manipulações e riscos para o futuro da informação

A insistência em manter uma narrativa de liderança — ainda que sustentada por dados distorcidos — tem efeitos que vão além do marketing corporativo. Afeta a confiança do público, a integridade do ecossistema informativo e o papel das plataformas digitais no debate público.
Por que isso importa?
Vivemos em uma era onde a informação circula mais rápido do que nunca, e os meios pelos quais a consumimos moldam nossas opiniões, decisões políticas e ações coletivas. Se uma plataforma que prioriza o engajamento sobre a verdade se apresenta como líder no jornalismo digital, isso pode agravar a crise da desinformação.
O impacto na credibilidade institucional
Organizações que baseiam suas decisões de mídia, publicidade ou relacionamento com o consumidor em dados inflados estão construindo estratégias sobre premissas falsas. Isso pode levar a investimentos errados, campanhas ineficazes e, no limite, a crises reputacionais.
Empresas precisam ter cautela ao interpretar rankings e declarações de plataformas. Nem toda liderança de categoria é reflexo de autoridade real ou impacto social positivo.
Conclusão: popularidade aparente não é sinônimo de relevância informativa
A plataforma X tem adotado uma abordagem clara de rebranding baseado em manipulação de percepção, utilizando classificações técnicas para construir uma imagem pública inflada. Essa tática pode gerar engajamento a curto prazo, mas coloca em xeque a confiabilidade da plataforma e sua contribuição para o ecossistema informativo global.
Em um momento em que a sociedade busca, mais do que nunca, informação confiável e transparente, é fundamental que usuários, marcas e profissionais de comunicação mantenham um olhar crítico sobre os dados que consomem e compartilham.
A liderança verdadeira no ambiente digital não se conquista com gráficos distorcidos ou categorias oportunas, mas com compromisso ético, conteúdo de qualidade e respeito à inteligência do público.
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